Luís Ferreira Duarte , sócio número 5 , é um dos fundadores do nosso clube. No clube já fez de tudo. Já foi treinador das camadas jovens , roupeiro , massagista , presidente e muitas , muitas vezes dirigente. Falar dele é falar de toda uma vida dedicada ao clube. Um exemplo a ser seguido pelos mais jovens.
P. - 30 Anos ! Ainda te lembras como tudo começou?
R. - Claro . Com o incentivo do Pedro Inês (sócio Nr.1) , começou-se a formar um grupo , que usava a casa dele como local de reunião e a partir do qual surgiu a ideia de organizar uma festa de arraial , que foi o embrião do futuro clube. Foram desenvolvidas várias actividades , entre as quais se destacou uma peça de teatro “A Força do Povo” e na qual eu era o interveniente principal com o nome de Luís , onde encarnava o papel de um soldado em África. A partir daí o grupo foi-se organizando cada vez melhor e alugamos um barracão , que era uma antiga empalhação , que começou a funcionar como sede.
P. - Na época , o teatro terá sido o grande motor aglutinador da população?
R. - Absolutamente. Naquela altura o teatro era considerada uma actividade nobre , algo que infelizmente hoje em dia já não é bem assim. Foi a volta do teatro que se começou a edificar este clube.
P. - Como apareceu a prática do futebol no clube?
R. - Penso que aconteceu de uma forma muito natural. Primeiro competimos no campeonato do oeste e mais tarde passamos a integrar as provas da A.F.L.
P. - Se no início o teatro era a actividade que agrupava todo um conjunto de pessoas , mais tarde foi o futebol que foi ocupar esse lugar?
R. - O teatro passou de moda e o futebol começou a ocupar um papel central. A partir daí , naturalmente as ambições foram crescendo e com o apoio de alguns sócios e as receitas da discoteca , fomos tendo equipas cada vez mais competitivas , que culminaram com a subida duas vezes a terceira nacional , o que resultou num grande impacto de mediatização , dando a conhecer esta pequena localidade por todo o país. Chegou mesmo a passar no programa Remate da RTP , uma reportagem sobre a nossa equipa , o que nos deixou cheios de orgulho.
P. - Como é que surge a idéia de uma nova sede social?
R. - Como tudo na vida , começamos a sentir a necessidade de termos um espaço nosso , onde os associados pudessem desenvolver ao máximo as potencialidades da cada uma das vertentes que mais apreciasse.
P. - Foi fácil a edificação da actual sede?
R. - Teve as suas dificuldades , os apoios oficiais foram mínimos , o que foi compensado por uma grande vontade das pessoas. Neste processo , foram fulcrais pessoas como o Brilhantino , o Albertino Rainho e o Ismael , que com o seu carisma e influencia , conseguiram congregar todo um conjunto de pessoas em prol de uma causa comum.
P. - Na altura existia uma grande rivalidade entre os clubes da freguesia , qual era a tua opinião sobre isso?
R. - Acho que na época , essa rivalidade acabou por ser salutar para todos , pois foi o motor para cada uma das nossas associações ser cada vez melhor , rumo ao clube que tanto nos orgulhamos.
P. - Á distância que o tempo permite , achas que o investimento feito no futebol foi o caminho correcto?
R. - Penso que sim , o futebol ocupou um papel central na estrutura do nosso clube e da própria terra e foi responsável por uma grande divulgação do nome da nossa terra um pouco por todo o lado. Basta recordar , que chegamos a defrontar equipas , como a Naval , hoje na superliga , em jogos a contar para o mesmo campeonato.
P. - Depois de muitos anos de alto nível , o nosso clube passou por uma fase de menor dinâmica. A que se deveu isso?
R. - Tudo é cíclico. As pessoas que durante muitos anos puseram os interesses do clube á frente dos próprios interesses familiares , começaram a saturar. E o clube não foi capaz de se regenerar , as pessoas não conseguiram manter a mesma liderança.
P. - Na própria localidade se nota uma certa estagnação , não concordas?
R. - Tudo se explica. A população é reduzida e grande parte está ligada a agricultura. Se calha a população é muito humilde , o que por vezes limita a ambição. Tem que se tentar um equilíbrio entre a ambição e a humildade.
P. - Na altura foi um tema que deu muito que falar. Achas que o célebre episódio que se passou na discoteca ( que era na altura a grande fonte de receitas do clube) foi o que levou ao fim da discoteca ou achas que foi a abertura de novos espaços , muito mais profissionais?
R. - ´Penso sem dúvida que foi a abertura de novas discotecas , privadas e completamente vocacionadas para o lucro. Aquele episódio da discoteca foi um falso problema. A perda daquela receita foi de facto um grande golpe na quebra de receitas o que veio a limitar muito os investimentos e a ambição do clube.
P. - Hoje em dia vêm muito menos pessoas ver os jogos de futebol. Achas que isso tem a ver com a falta de competividade da equipa ou antes que tem a ver com as muitas alternativas que hoje em dia a sociedade oferece?
R. - Na minha opinião tem a ver com as alternativas que hoje existem. E facilmente vimos , que equipas muito competitivas , como a União de Leiria , também têm fracas assistências aos jogos. E isto também tem a ver com a perda de bairrismo das pessoas , e que de certa forma as levava a aderir aos jogos e a tudo o que envolvesse a equipa da sua localidade. Esse bairrismo era bem visível durante a semana , onde nos cafés o tema de conversa girava sempre em volta do futebol.
P. - Clubes com o nosso , substituem o estado ao permitirem aos jovens o acesso gratuito ao desporto. Não concordas que o estado deveria apoiar mais estes clubes e deixar de apoiar tanto os clubes profissionais , quando muitas vezes os subsídios concedidos servem servem para pagar a jogadores profissionais?
R. - Sem dúvida.O estado deveria canalizar mais os apoios para instituições como as nossas , que assumem grande importância e que muitas das vezes , conseguem que os jovens não enverdem por caminhos menos saudáveis.
P. - Hoje vivemos num contexto bastante diferente daquele da época da fundação do clube. Não achas que o próprio clube deveria evoluir na forma como se relaciona com os seus filiados?
R. - Plenamente.Hoje em dia os contextos são muito diferentes e estamos a trabalhar da mesma forma de há 30 anos.Temos que nos adaptar , promover um maior contacto com os sócios e pó-los ao corrente do quotidiano do clube.
P. - Pensas que a população está de costas voltadas para o clube?
R. - Penso que já esteve mais e que aos poucos está a voltar. A própria estabilidade directiva é uma prova disso.
P. - Ao longo da nossa história , as camadas jovens sempre foram um parente pobre do futebol. Não achas que deveríamos valorizar mais este aspecto?
R. - Completamente. As camadas jovens deveriam ser mais privilegiadas, pois não só no aspecto desportivo , como no aspecto social , na própria formação da personalidade dos jovens, estas são idades que deveriam ser privilegiadas. Para além disto , os próprios jovens e indirectamente as suas famílias , estariam a reforçar a sua ligação ao clube.
P. - Foste durante alguns anos treinador de equipas de formação . Foi uma actividade que te deu prazer?
R. - Completamente , senti que era um trabalho muito positivo. Além de treinador , senti que estava a dar um pouco de mim a formação , não só desportiva , destes jovens.
P. - Tem-se falado na hipotética hipótese , de em algumas alturas os clubes da freguesia se unirem , e mantendo a sua identidade , formarem equipas comuns. Achas que pode ser uma boa hipótese?
R. - Penso que é uma boa hipótese de forma a tornar as equipas mais competitivas e o que se poderá reflectir também no próprio desenvolvimento da freguesia. Juntos teríamos mais força , funcionaríamos como um bloco e engrandeceríamos a freguesia. As divisões atrasam o desenvolvimento.
P. - Foste uma das pessoas que sempre sonhou mais alto neste clube. Queres falar-nos de alguns dos teus projectos?
R. - Uma das minhas grandes apostas era a edificação de uma piscina coberta , e que na época tinha comparticipação oficial a volta de 90% . Este foi um projecto que não se tornou viável , em grande parte por motivos familiares , pois envolver-me nisso , seria estar a obrigar-me a estar presente continuamente , de forma a dar o exemplo da iniciativa que eu tinha tomado.
P. - Um sonho antigo é a edificação de um ringue para a prática desportiva. Achas que pode ser viável em breve?
R. - Plenamente , acho que é viável e necessário. Para tal é necessário que a actual direcção saiba dar as voltas necessárias e tenha motivação para isso.
P. - Não achas que deveria existir uma maior ligação entre o clube e as escolas?
R. - Penso que sim , no entanto as escolas estão a criar as suas infra-estruturas desportivas próprias , o que nos deixa um bocado na margem e também nos dificulta um pouco a termos acesso a essas próprias infra-estruturas.
P. - Em assembleia geral foram alterados os estatutos e hoje é proibido o pagamento de prémios a atletas. Qual é a tua opinião sobre isso?
R. - Não vejo mal nisso. No entanto , actualmente o clube não gere receitas para isso. Um investimento traduzia-se em equipas mais competitivas , e assim , a equipa num patamar superior , traria uma maior divulgação ao clube.
P. - Hoje em dia , e embora não se pague qualquer tipo de ordenados , o futebol representa uma grande despesa no funcionamento geral do clube. Achas que este investimento se deve manter?
R. - Acho que sim. É um pólo aglutinador dos sócios e só com uma equipa a competir se justifica o investimento feito no campo desportivo.
P. - Fala.se agora numa nova renumeração dos números de sócio , que pensas disso?
R. -Sou contra , não nos devemos esquecer que cada um tem o seu espaço , e isso não se pode apagar. É apagar a nossa própria história.
P. - Concorda com aqueles que afirmam que o clube se deveria orientar mais para a vertente social , nomeadamente no apoio a terceira idade e aos jovens?
R. - O clube deve-se orientar para as 3 vertentes para as quais está vocacionada : desporto , cultura e recreio . Para cada uma destas actividades , é necessário existirem lideres com carisma que consigam criar todo um conjunto de condições de forma a desenvolverem as suas actividades.
P. - Durante aquele período de estagnação , o nosso clube deixou-se ultrapassar na vanguarda do associativismo. É irreversível?
R. - Penso que não , as coisas tem tendência a melhorar , e esperamos que num futuro próximo a diferença possa ser reduzida.
P. - O site pode ser uma peça importante no relacionamento com os sócios?
R. - É importantíssimo e para além de por os sócios em contacto mais rápido com o clube , também qualquer pessoa em qualquer ponto do globo pode ter acesso e ficar a conhecer melhor o nosso clube . Basta clicar a palavra Amor e assim de uma forma instantânea tem acesso a toda uma base de dados sobre o clube.E talvez a palavra Amor possa inspirar as pessoas a viverem um pouco mais em função do amor da família e de valores de partilha.
P. - Como imaginas o clube daqui a 30 anos?
R. - Gostava de o ver a funcionar como a 25 anos atrás , quando existia uma grande envolvência dos sócios , que viviam o clube intensamente. Isso culminou no nosso primeiro grande feito desportivo , a subida a 1ª distrital em 81/82 .E tudo isto se fazia sem qualquer tipo de apoios , e resultava da carolice das pessoas.
P. - Queres acrescentar algo?
R. - Em conclusão , sinto-me bastante realizado por todo o trabalho que realizei. Sinto que dei muito ao clube , mas que o clube me deu muito mais a mim , contribuindo para a minha formação como homem. Aproveito ainda para todos os que de formas distintas tornaram este clube uma realidade e fico a torcer para que o clube se perpetue de forma a ser um pilar importante na cultura , recreio e desporto , vertentes para as quais está vocacionado.
Data entrevista: 23/10/2005
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